Subscreva:

Pages

domingo, maio 20

Adolpho Bloch - 6


Em 1965, com o edifício já erguido mas não acabado, o Mauro Salles o pediu para ali fazer o lançamento do AeroWillys, pois a festa seria muito importante para a sua nova agência de publicidade. Bloch preparou o hall, que ainda estava em concreto. A porta era de tábuas, mas a decoração foi tão luxuosa que começaram a lhe chamar de Cecil B. DeMille. Mauro e Luiz Salles, seus grandes amigos, sempre se lembram desse lançamento que marcou época no Rio e foi o início da ascensão de suas carreiras profissionais.

Bloch mudou-se para a Praia do Russell em novembro de 1968. Na galeria do segundo andar, inaugurou o Museu de Arte Brasileira com quadros e esculturas dos melhores artistas nacionais. O museu serve de foyer para o teatro que hoje leva o seu nome e que foi inaugurado com a peça O Homem de La Mancha, com Bibi Ferreira, Paulo Autran e Grande Otelo, sob direção de Flávio Rangel. Foi um sucesso absoluto. Na matinê da primeira quinta-feira, como de hábito, a platéia era constituída de senhoras.

Caiu forte temporal na cidade e não havia condução para elas. Bloch mandou preparar sanduíches, serviu refrigerantes e providenciou carros que as levassem até em casa. Para ele, nunca foi visto pessoas tão gratas a um empresário teatral.

Bloch gostava tanto da peça que todas as quintas-feiras fazia gazeta e ia assistir à matinê. Aprendeu algumas falas e decorou a canção principal da peça. Certa vez, reparou em um caco de Grande Otelo. Em uma das cenas em que os mouros roubam tudo, o pobre Sancho Pança fica sem nada e ele disse para o público: "Além de ser Furtado, sou obrigado a ficar Callado!" Com esse inesperado caco ele homenageava dois amigos que estavam na platéia: o ex-Ministro Celso Furtado e o escritor Antônio Callado.

O teatro dava para Adolpho Bloch muita alegria. Em um dia, quando o Almirante Faria Lima tomou posso no governo do Estado do Rio de Janeiro, Bloch foi a ele, em companhia do Murilo Melo Filho, para dizer-lhe que o Rio precisava de mais teatros e grandes espetáculos, e que ele mesmo gostaria de contribuir com 2 milhões de cruzeiros para a construção do Palácio das Artes, que teria como modelo o Lincoln Center de Nova Iorque.

Três semanas depois, em uma sexta, o telefone tocou e ele mesmo atendeu. Era o Governador Faria Lima lhe convidando para assumir a presidência da Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro (Funterj). Bloch deveria se apresentar à secretária de Educação do Governo para ali erguer um edifício de 22 andares. Os dez primeiros seriam destinados ao apoio técnico do teatro, com salas de ensaio, de orquestra, balé e administração. Os restantes andares seriam vendidos para formar um fundo de renda estável para as atividades do Municipal.

Em Inhaúma, Bloch construiu a Central Técnica, onde são feitos cenários, figurinos, sapatos, adereços, tudo o que um espetáculo teatral necessita. Restaurado o Teatro Municipal, surgiram as dificuldades: era difícil contratar grandes nomes internacionais, pois as contas e os pagamentos das administrações passadas não estavam em dia. O Municipal tinha fama de mau pagador. Depois de sanear as contas, trouxe uma equipe de técnicos do Teatro Colón, de Buenos Aires. E assim, dois anos depois do início das obras, reinaugurou o Municipal com a ópera Turandot, de Puccini, em um espetáculo de gala que teve a presença do Presidente Ernesto Geisel. E a temporada de reabertura prossegiu com grandes espetáculos: a Orquestra Filarmônica de Israel, regida por Zubin Mehta, os concertos de Rostropovitch e, na parte lírica, para coroar a temporada, convidou Franco Zeffirelli para montar La Traviata. Foi um espetáculo como o Rio nunca tinha visto antes e que se prolongou em diversas récitas.

Quando lhe pediam uma autodefinição, Adolpho Bloch costumava responder que era brasileiro, judeu e sionista. Conhecia o mundo. Para ele, conhecer Israel foi uma grande lição. Ali vivem judeus de 150 países diferentes e que formam uma nação espiritualmente forte e verdadeiramente democrática. Em 1948, no instante em que Ben Gurion declarava a independência de Israel, sete exércitos árabes altamente equipados invadiam as fronteiras do novo país para esmagar o seu povo e lançá-lo ao mar. O mesmo aconteceria em 1956, em 1967 e em 1973. Conversando com os líders e chefes militares de Israel, compreendeu que uma nação se forja na luta e na fé.


Continua.
Clique aqui para continuar lendo: Post07


Fonte: Rede Manchete

0 comentários: