Na Rua Dona Zulmira, que ficava perto, as batalhas de confete encantavam Adolpho Bloch. Cadeiras na calçada, luzes, as famílias ofereciam croquetes e empadinhas a todos, era uma festa para os olhos, o estômago e o coração. Já com a pequena renda da gráfica e participando da alegria geral, a família Bloch era muito feliz. Ao longo de sua permanência no Brasil, juntavam dinheiro para comprar as passagens que os levariam para os Estados Unidos. Mas a alegria de viver no Brasil foi tomando conta dos Blochs. Um dia, o dinheiro reservado para as passagens serviu para comprar o primeiro Ford Bigode da familia, no Mestre-Blatgé. E assim podiam participar das batalhas de confete e, durante o carnaval, do corso da cidade, que ia da Avenida até o Mourisco, no final de Botafogo. Sua irmã Sabrina casou-se. Depois foi a vez de Fanny. Casou-se com um homem muito bem de vida, pois tinha uma bicicleta para ir trabalhar. Levava-os uma vez por semana à Exposição do Centenário do Brasil, entrando pelos fundos da Rua da Misericórdia. Meses depois, descobriram que ele só os levava nos dias de entrada franca.
Foi lendo o jornal do bonde que Adolpho Bloch ia aprendendo o português. Só se falava no escândalo do colar oferecido pela Associação Comercial ao Presidente Epitácio Pessoa, que havia promovido as festas comemorativas do Centenário. Adolpho se perguntava: "Mas por quê? É a festa mais bonita que vi em minha vida e todos os jornais só falam no escândalo!".
Começou a freqüentar as redações dos jornais, em busca de encomendas. Em A Vanguarda, que bem mais tarde, com outro proprietário, seria um jornal integralista e anti-semita, tornou-se amigo de seus diretores Ozéas Serôa da Mota e Mazzini. A sua rotativa era em frente à Rua do Rosário, 170. Um dia apareceu um didadão português, chamado Oliveira, trazendo uma amostra de papel de seda para servir de invólucro de laranjas. Mazzini perguntou a Adolpho se ele seria capaz de imprimir aquilo. Adolpho ficou de estudar o assunto e conseguiu fabricar o papel de 18 gramas na Fábrica de Papel Companhia Mecânica de São Paulo. E comprou máquinas para imprimir naquele papel o mapa do Brasil. E assim pôde atender à freguesia dos exportadores de laranja: Alberto Coccoza, Karl Fisher, Oliveira & Irmãos e outros. Em menos de seis meses, tinham dinheiro para a primeira casa, na Rua 5 de Julho, 32, agora 82, em Copacabana. Foi construído pela Freire & Sodré e nela gastaram 180 contos de réis.
A gráfica teve vários endereços: Mem de Sá, 285 (onde Adolpho conheceu Irmã Paula); Constituição, 38 e, depois, Visconde da Gávea, 26. Foi neste endereço que compraram a primeira off-set e iniciaram a construção do prédio da Rua Frei Caneca, 511. Estavam às vésperas da Segunda Guerra Mundial. No dia 1º de setembro de 1939, quando leu no Correio da Manhã que os tanques da Alemanha haviam invadido a Polônia para ocupar o porto de Dantzig, e que os poloneses estavam reagindo com a cavalaria, Adolpho disse para ele mesmo: "Já vi esse filme, em 1920, nas ruas de Kiev.". E foi naquele ano que inauguraram a primeira sede própria, na Rua Frei Caneca, um prédio bastante moderno para a época. Nos fundos, junto ao morro de São Carlos, tirararm 50 mil metros cúbicos e eli ergueram um edifício de seis andares. E lá, ficaram até 1968, quando se mudaram para o Russel, 804.
Ao mesmo tempo, compraram os terrenos em Parada de Lucas, boa parte deles do editor José Olympio. Custaram 2 milhões de cruzeiros em vinte promissórias de 100 contos cada uma. José Olympio os concedeu a oportunidade de comprar outros terrenos ao lado e neles construíram o Parque Gráfico, um dos maiores da América Latina. Nesse tempo, a rotativa trabalhava a semana toda imprimindo revista infantis para a Brasil-América, do Adolfo Aizen, e para a Rio Gráfica, do Dr. Roberto Marinho. Adolpho Bloch tinha três dias de folga nas máquinas: sábado, domingo e segunda-feira. Sempre sonhara ter uma revista semanal que não dependesse das encomendas. Tinham capacidade para imprimir 200 mil exemplares. Os acontecimentos eram históricos e Adolpho queria participar deles. O mercado de revistas, no Brasil, era liderado pelo O Cruzeiro, dos Diários Associados. Adolpho teve a oportunidade de visitar a nova sede construída pelo Dr. Assis Chateaubriand, na Rua do Livramento. E verificou que a rotativa estava em um andar e o setor dos cilindros em outro. Não compreendeu aquela disposição e percebeu que, com inovações técnicas e editoriais, poderia conquistar o mercado.
Adolpho Bloch tinha amigos intelectuais: o Henrique Pongetti era o seu companheiro de praia. R. Magalhães Jr. era o seu conhecido dos tempos do Assirius, quando ele ocupava uma mesa na primeira fila, junto à pista e dançava os dois tangos e dois maxixes de praxe. Adolpho convidou-o para trabalhar no projeto de uma revista semanal. Em 1951, em uma reunião da qual fazia parte o seu primo, Pedro Bloch, imaginaram uma revista do tipo da Paris-Match, daí surgindo o nome de Manchete. Para o lançamento da revista, Adolpho comprou novas máquinas e instalou a redação na sede da Rua Frei Caneca. Colocou um anúncio nos jornais, dizendo que precisava de um desenhista industrial. Daí, surgiu um rapaz, o Wilson Passos, de poucas palavras, para trabalhar na revista Manchete: um técnico rápido e competente, segundo o próprio Adolpho afirmava.
Continua.
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