Em sua juventude, Adolpho Bloch leu muito sobre o Caso Dreyfus. Quando lhe perguntam por que abraçou a causa do Presidente JK, costumava responder com o caso Dreyfus. É a história de uma injustiça. Para Bloch, que era judeu, estava habituado a sofrê-la. Por isso mesmo lembrava um caso. Em 1981, estava em Nova Iorque com Zevi Ghivelder. Bloch ia receber uma homenagem do American Jewish Committee. Ao entrarem em um táxi, o motorista lhes transmitiu a notícia que acabara de ouvir no rádio: o Papa João Paulo II sofrera um atentado em Roma e estava em grave perigo de vida. Zevi e Bloch não trocaram uma palavra. Ficaram mudos. Nada falaram, mas pensaram a mesma coisa: e se um judeu maluco fose o autor do atentado? Só respiraram, aliviados, quando souberam que o criminoso era um turco. O final da história é que tudo terminou bem, o Papa goza de boa saúde e, na cerimônia do lava-pés, na Quinta-Feira Santa, lavou os pés de seu quase assassino.
Foi nessa mesma estada em Nova Iorque que, durante uma reunião do American Jewish Committee, foi procurado pelo senhor Norman Alexander, que se apresentou como diretor da Rutherford Company. Bloch conheceu a firma, que estava fabricando máquinas para imprimir latas de alumínio sem costura para bebidas. Era então uma novidade, pois as latas que usavam no Brasil eram de folha-de-flandres e tinham costura. Conhecia a técnica e achou que seria um grande negócio investir no setor. Contudo, não quis fechar o contrato na hora. Disse que regressaria ao Brasil e depois voltariam a falar no assunto.
Pessoalmente, ele preferiria continuar investindo na editora, visitando exposições de maquinas gráficas, de livros, revistas e, com o tempo, concretizando o projeto de fabricar latas de alumínio, uma novidade no mercado brasileiro. Possuía em Água Grande instalações de 30 mil metros quadrados para a nova indústria, cujo ramo é parecido com aquele que sempre foi dele. Para isso, ele tinha recursos mais do que suficientes. Para iniciar a televisão, entre outros projetos, ele tinha de comprar de uma só vez 12 milhões de dólares em filmes que poderiam ser transmitidos apenas três vezes no espaço de dois anos. E em dois anos, os 12 milhões de dólares viraram fumaça.
Relutou consigo mesmo e custou-lhe a idéia da televisão. Mas quando aderiu, e seguindo o seu temperamento, foi para valer. Seu sobrinho Jaquito seguiu para os Estados Unidos e para o Japão, trazendo os equipamentos mais modernos. Aqui, com a sua equipe, começaram a viabilizar o projeto. Tinham cinco canais (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza), que estiveram acrescidas de dezenas de afiliadas que cobriam todo o território nacional.
Em 1987, a Associação de Críticos de São Paulo, em 12 prêmios, concedeu sete à Rede Manchete, inclusive o Grande Prêmio da Crítica. Entraram no ar em 5 de junho de 1983 e meses depois, no carnaval de 84, fizeram sozinhos a cobertura do primeiro carnaval na Passarela do Samba. Foi um sucesso inesquecível e sentiram que o povo lhes prestigiava.
Produziram uma programação da mais alta qualidade. Seus estúdios em Água Grande, com 20 mil metros quadrados, entusiasmavam os visitantes que comparavam as suas instalações cenográficas às de Hollywood dos anos dourados. Tinha confiança na televisão. Para ele, era o futuro da comunicação.
Antes de falecer, em novembro de 1995, Adolpho Bloch confessava em suas entrevistas que se sentia feliz. Encontrou a mulher que esperava. Anna Bentes era para ele a amiga e companheira de todas as horas. Ela trouxe a alegria de viver e novo ânimo para o trabalho. Seria preciso viver cada instante com amor e intensidade. Para ele, seria preciso desenvolver o nosso país, além de compreender o próximo. Afirmou também que a vida passou muito depressa em um tempo muito curto, no computador da memória.
Uma frase que se destacou bastante na vida de Adolpho Bloch foi aquela em que o mesmo afirmava que em suas veias corriam tintas. Com isso, mostrava a grande paixão que tinha pela imprensa. Mesmo não sendo natural de nosso país, Adolpho Bloch tornou-se um dos mais respeitados cidadãos de nosso país, deixando uma grande contribuição para os nossos meios de comunicação.
As nossas homenagens a um homem que se consagrou como um verdadeiro herói e símbolo da imprensa brasileira, bem como defensor e grande contribuinte da cultura em nosso país.
Fonte: Rede Manchete
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