E aí que você acorda – e não tem coragem de desligar o despertador. De soneca em soneca, se arrasta até os 45 do segundo tempo. Você vai pro seu trabalho do qual nem gosta tanto – mas é confortável, a grana é razoavelmente boa, seu chefe não dá muito as caras por lá. E no fim do dia volta pra casa, pra encontrar a mulher de quem gosta, mas pela qual já não sente mais aquela paixão motivadora.
E você conta os dias, espera que as horas passem rápido – pra chegar aonde mesmo? Esse é um exemplo típico de uma vida levada pela inércia. Você não vive – você faz peso no mundo.
Até que, certo dia, encontra algo que traz de volta o brilho no olho. Pode ser um esporte, talvez uma nova direção na carreira, talvez um novo amor. E esse algo é como combustível injetado nas veias – de repente, sair da cama não é mais tão difícil, seu trabalho já não é mais tão monótono e aquela mulher te faz querer ir mais longe. Parabéns, você encontrou o que te move. E isso é uma coisa difícil na vida – tem gente que só consegue tal façanha, quando já se aposentou – talvez por ter tido tempo pra olhar pra suas paixões. Nunca é tarde.
A paixão é um dos sentimentos que mais nos impulsionam, talvez por isso sejamos tão viciados nela. E não importa quem ou o que seja o alvo da sua paixão – o importante é que ela exista. Porque a paixão nos dá um motivo pra levantar da cama todos os dias. Alguém que vive sem paixão, não sabe pra onde vai. É como um veleiro, vai indo com o vento, sem nem fazer idéia de onde vai chegar. Pode haver sorte em se chegar em um lugar bom, mas, na grande maioria das vezes, essas pessoas acabam chegando em destinos com os quais não se identifica. Ao contrário, aqueles que encontram sua motivação na vida, correm atrás, caem, se levantam, tropeçam, cambaleiam – mas não desistem. Porque eles sabem onde querem chegar. Ou, se não sabem direito, reconhecem que existe algo que os motiva – e isso basta. Há um combustível invisível por trás de tudo que não permite que o motor desligue.
Penso que a vida só faz sentido mesmo, se for vivida assim. Porque a vida sem paixão é dura, sem cor, sem ritmo. Os dias passam, viram semanas, que se dobram em quinzenas, que viram meses, que se acumulam em anos – e nada acontece. A inércia dos dias te traz um grande vazio – porque se o combustível não existe, os desafios desaparecem. E aí, já não é mais preciso lutar – e sim esperar com paciência, por algo que você nem faz idéia do que se trata.
Talvez a felicidade que busquemos eternamente, e que não pode ser descrita em livros e nem explicada por mestres, esteja, no final de tudo, na soma dos frios na barriga, dos calores no peito, da adrenalina das conquistas e dos arrepios na nuca.
Original de Eme Viegas
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