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sexta-feira, novembro 4

O Pogrom De Lisboa


Lisboa é uma cidade de belos monumentos. Lá existe um monumento de uma beleza discreta, em sua forma limpa e direta, mas de memória amarga. Porém, muitas pessoas passam sem se dar conta da sua importância, outros mesmo nem percebem a sua existência. Há quem pare e o observe, mas sem a noção de sua relevância histórica. Esse monumento é em homenagem aos judeus mortos no ano de 1506, no chamado "Pogrom de Lisboa" ou a "Matança de Lisboa", um episódio cruel e insano.


Evidentemente esse fato não é único, não foi o primeiro e nem o último. Ao longo da história da Europa foram mortos milhares de judeus, quer pela inquisição quer em motins (Pogroms) de caráter anti-semita, tendo o povo judeu sido o bode expiatório para todo o tipo de males sociais. Mas o monumento lisboeta trás em si algo muito especial e único.

Os primeiros anos de século XVI, não estavam sendo muito bons e 1506 definitivamente não trazia perspectivas melhores. Portugal enfrentava uma terrível seca, a crise econômica não dava sinais de aplacar e ainda havia a peste deixando vítimas. A população apegava-se à fé e corria para as igrejas onde todos rezavam inúmeras novenas, faziam procissões e iam às missas com o intuito de combater o mal. 

Era o dia 19 de abril. Segundo cronistas da época um pseudo-milagre estaria ocorrendo no interior da Igreja Mosteiro de São Domingos (Santa Justa), alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado — fenômeno que, para os católicos presentes, só poderia ser interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias - um milagre. Ocorreu que um cristão-novo, judeu obrigado a converter-se ao catolicismo, que também participava da missa minimizou o que presenciava e tentou explicar que a luz era apenas o reflexo do sol, mas foi calado pela multidão. A Ira dos fiéis tornou-se numa turba enraivecida, as mulheres e homens dentro da igreja agarraram esse e outros cristãos-novos presentes e os espancaram até a morte em frente à entrada da igreja, depois não satisfeitos com a morte, esquartejaram-nos e fizeram uma fogueira onde queimaram os corpos. O mais relevante e não surpreendente é que os padres dominicanos em vez de conterem a fúria, atiçaram a população. Esses dominicanos prometiam absolvição dos pecados dos últimos 100 dias para quem matasse os "hereges". Assim convenceram a todos a seguirem em marcha até a judiaria, o bairro dos judeus, onde famílias inteiras foram retiradas de suas casas. Homens, mulheres, velhos e crianças, foram torturados, massacrados, violados e queimados em fogueiras improvisadas no Rossio.

Um dia após o outro, durante três dias, de uma loucura indomável, o massacre se deu, sob as bênçãos dos dominicanos. Ao final do quinto dia sangrento, El Rey D. Manuel I, que se refugiara em Abrantes - onde se instalara para fugir à peste, soube do ocorrido e decidiu intervir enviando tropas especiais para dar cabo a aquela vergonhosa situação, já que até mesmo altos  funcionários régios foram vítimas das atrocidades. Lisboa estava mergulhada na escuridão e insensatez. O sangue corria pelas ruas, o cheiro dos corpos queimados invadia a atmosfera da cidade, havia dor e lamentos por toda a parte. A fúria não poupou sequer D.João Rodrigues de Mascarenhas, escudeiro do próprio rei e detentor de muitos direitos de alfândega nos principais portos do país, foi assassinado por ser rico e cristão-novo. Finalmente no dia 24 de abril as tropas reais conseguiram conter as ações de intolerância e fanatismo. O resultado de toda a gama de eventos resultou em um saldo de mortos que ultrapassava a casa dos 2500 judeus. El Rey D. Manuel I, o rei tolerante, não tolerou e horrorizado com tamanha barbárie mandou retirar do Brasão da cidade de Lisboa o titulo de "Honrada" e deu sentença de morte aos frades envolvidos.

O Presidente Jorge Sampaio, inaugurou o monumento de que falei no início do post, cujo detalhe pode ser visto na foto aqui publicada. Ele foi o único chefe de Estado, que pediu oficialmente perdão ao povo judeu pelos erros cometidos no passado, o fato se deu na Sinagoga Sharé Tikvah. Por isso digo que esse monumento é impar e merecia maior atenção daqueles que por ele passam.

Foto - Wikipedia - PT

2 comentários:

Anônimo disse...

Não sabia que D manuel tinha mandado para a morte os padres. Bem feito e ainda foi pouco.

Leco disse...

Não curto anonimatos... mas tudo bem.

O caso aqui não foi festejar a morte de A ou B. na verdade, todas as mortes, inclusive as dos freis, foi fruto da intolerância, da escuridão das mentes e do fanatismo.

Não devemos festejar esse tipo de coisa.