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terça-feira, novembro 1

Konna Yume Wo Mita


Eu, simples mortal, não me preocupo em estudar os motivos do sonhar, como fizeram Freud e Jung. Apenas sonho. E tenho sonhado muito ultimamente. Sonhos tão bons que me lembro de às vezes acordar sorrindo e com os mínimos detalhes ainda vivos na mente. Daqueles que merecem ser lembrados por todo o dia e que fazem muito bem a alma. 


Do terço da minha vida que não domino, tem sido o sonho a certeza de que continuo vivendo. Certeza que me vem, quando o sonho parece ser tão real que o despertar faz parte dele e que os primeiros passos e abrir de olhos são a continuação dessa aventura vivida em alma. E perco a noção do real, do verdadeiro, pois o sonho foi tão vivido que tudo o que me cerca veste-se de uma irrealidade ímpar. 


É como se fosse o inverso do conto “Corvos” do filme Sonhos, de Akira Kurosawa. Nesse conto, o quinto dos oitos mostrados no filme, um estudante de artes sai da vida real e descobre-se dentro dos vibrantes trabalhos de arte de  Vincent Van Gogh durante uma visita a um museu de artes. Nas telas do artista, ele encontra o próprio Van Gogh em um campo aberto e conversa com ele. O estudante perde a trilha do artista e viaja através de outros trabalhos tentando encontrá-lo. A pintura  Campo de trigo com corvos é um elemento importante neste sonho.


Mas a arte dos meus sonhos é simples, sem a genialidade e intensidade do pintor holandês. É básica e composta de elementos por mim conhecidos: a planície das minhas paixões, o planalto dos meus amores e as montanhas dos meus desejos, que juntos acabam por compor um quadro semelhante a minha própria natureza. 


Nota: “Sonhos” são 8 episódios em que sempre começam com os dizeres em japonês: ”konna yume wo mita” (vi um sonho assim), que mostra um Kurosawa questionando as grandes preocupações da psique humana que nos atormentam: a morte, a culpa, a vida humana posta em perigo, a preservação da natureza, o papel das artes na nossa vida, os ditames impostos pela sociedade de consumo.

Foto: Material de divulgação do filme “Sonhos” de Akira Kurosawa

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