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quinta-feira, novembro 8

Os Judeus Na Dinamarca Durante A II Guerra Mundial - 3


Em menos de três semanas, 7.200 judeus e 700 familiares não judeus escaparam para a Suécia em embarcações de pescadores locais. Algumas calamidades aconteceram, mas foram poucas. Na própria Gilleleje, a Gestapo conseguiu capturar cerca de 80 judeus escondidos sob o telhado de uma igreja. A viagem de apenas duas milhas também tinha seus riscos, entre outros, de serem interceptados pelos barcos das patrulhas alemãs.O custo total da operação foi de cerca de 12 milhões de coroas dinamarquesas, sendo que os judeus arcaram com aproximadamente entre 6 e 7 milhões. O restante foi obtido com doações particulares e públicas de dinamarqueses. Cada judeu chegou a pagar em média entre 1.000 a 2.000 kronen, mas alguns chegaram a desembolsar 50 mil kronen, uma verdadeira fortuna.

No total, os nazistas conseguiram prender 464 judeus, dentre os quais, Max Friediger, o rabino-chefe de Copenhague. Mas, a Dinamarca não se esqueceu desses judeus e pressionou os nazistas, conseguindo que fossem deportados para o campo de concentração de Theresienstadt. Por piores que fossem as condições de vida em Theresienstadt, campo de concentração “modelo“ montado pelos alemães para efeitos de propaganda, não era um campo de extermínio. Autoridades dinamarquesas também  conseguiram convencer Eichmann  a manter os judeus da Dinamarca fora dos campos de exterminação. Quase todos sobreviveram, em grande parte graças ao apoio recebido pelo serviço civil dinamarquês e organizações religiosas que lhes enviavam mensalmente mais de 700 pacotes com roupas, comidas e vitaminas. Em junho de 1944, devido à insistência dinamarquesa, membros da Cruz Vermelha e dois representantes dinamarqueses inspecionaram o campo de Theresienstadt para se assegurar das condições de seus compatriotas.

E, no dia 15 de abril de 1945, os sobreviventes foram libertados de lá. A Dinamarca havia conseguido persuadir os alemães a libertar os judeus dinamarqueses presos e a deixá-los ir para a Suécia. Dos 464 detidos, 52 haviam morrido.

Durante a Shoá, no total, 120 judeus dinamarqueses haviam perecido vítimas de perseguições.

A volta à Dinamarca

A ocupação alemã terminou no dia 5 de maio de 1945 e os judeus que viviam na Suécia puderam voltar para casa, alguns haviam se juntado à chamada Brigada Dinamarquesa, uma unidade militar formada em território sueco que lutara contra os nazistas. Alguns desses jovens deram sua contribuição durante a luta pela independência de Israel.

O fim da guerra não significou para os judeus europeus o fim de seu sofrimento. Os que tinham um lugar para onde voltar eram muitas vezes recebidos com hostilidade, longe de serem bem-vindos. Mas, não foi o caso dos judeus da Dinamarca. A grandíssima maioria descobriu, ao retornar a seu país, que inventários haviam sido feitos de suas casas e negócios e suas propriedades haviam sido protegidas. Seus lares, animais, jardins e pertences pessoais haviam sido preservados pelos vizinhos, sendo raros os casos em que isso não aconteceu. As igrejas que haviam cuidadosamente guardado Sefarim e outros objetos de culto, devolveram-nos à comunidade.

E, ao contrário de outros países que fizeram muito menos para os judeus, nem a Dinamarca nem os dinamarqueses procuraram obter crédito para o resgate. Yad Vashem, além de conceder o título de Justos entre as Nações à Dinamarca, como país, o concedeu também ao Movimento da Resistência Dinarmarquês. Seus membros pediram que a homenagem fosse estendida ao Movimento, como um todo, e que não queriam que nenhum nome específico fosse mencionado. Não era necessário, disseram. Cada um deles tinha cumprido com seu dever.
Enquanto outros países esperaram décadas, alguns mais de 60 anos para reconhecer sua participação na Shoá, historiadores dinamarqueses têm sido críticos sobre a atuação de seu país. Criticam os esforços limitados para receber os refugiados e a vida que tiveram que levar nos anos da ocupação, e a natureza improvisada do resgate. Eles argumentam que mais devia ter sido feito.

A pergunta que nos cabe fazer é: por que a historia da Shoá na Dinamarca foi diferente? Historiadores e estudiosos ainda tentam responde-la. Não há, porém, nenhuma dúvida sobre o excepcional caráter do povo dinamarquês. Ao serem perguntados por que agiram da forma, dinamarqueses de todos os níveis sociais e culturais disseram que nada fizeram além de tratar os judeus como vizinhos. E ninguém pode deixar que o inimigo que ocupa seu país maltrate, deporte ou mate um vizinho. A explicação de seu comportamento, muito nobre e muito humano, pode, simplesmente, ser esta.

Bibliografia:

Jørgensen , Mirjam Gelfer, Jews in Danish Art, the  Society for the publication of Danish Cultural Monuments, Ed. Rhodos International Science Art Publishers, Patrono: Sua Majestade, a Rainha Margarete II da Dinamarca.
The Jewish community in Denmark: history and present status, ensaio publicado na revista "Judaism: A Quarterly Journal of Jewish Life and Thought“, 22 de março de 1998

Agradecimentos:
Ian Petersen

Fonte: Revista Morashá

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