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quinta-feira, novembro 8

Os Judeus Na Dinamarca Durante A II Guerra Mundial - 2


Os planos nazistas

Após três anos de ocupação alemã, o número de dinamarqueses que havia engrossado as fileiras do movimento de resistência era cada vez maior. No verão de 1943, a oposição popular desencadeara uma série de atos de resistência, greves, demonstrações e sabotagem. A Alemanha exigiu do governo duras medidas de repressão e a pena de morte para os sabotadores. Mas , o governo dinamarquês decidiu que não cederia às novas exigências e, no dia 29 de agosto, renunciou. Imediatamente os alemães impuseram, em todo o país, a lei marcial e o toque de recolher, prendendo os membros das forças armadas dinamarquesas. Os judeus sabiam que sua situação tornara-se precária.

Até então, Dr. Werner Best, SS-Obergruppenführer, o representante do Reich no país, evitara confrontos no tocante à questão judaica. Nazista de carteirinha e antissemita convicto, sendo, inclusive, responsável por organizar deportações para Auschwitz, Best, que se tornara o governante de fato da Dinamarca, era, acima de tudo, um oportunista.

Em 8 de setembro, ele enviou um telegrama a Berlim delineando seus planos para deportação dos judeus do país e solicitando um navio e que lhe fossem enviados mais homens para executar a operação. Ele tinha consciência de que tal atitude fortaleceria sua posição perante as lideranças do Terceiro Reich, mas sabia, também, que qualquer ação contra os judeus colocaria em risco uma possível colaboração com os dinamarqueses. Na realidade, o que Best queria era o envio de forças adicionais que usaria para lutar contra a Resistência dinamarquesa. Ele sabia que Berlim as enviaria se fossem necessárias para a deportação de judeus.

Para não por em risco futuras negociações com os dinamarqueses decide vazar os planos para uma iminente deportação através de Georg Ferdinand Duckwitz, o adido da missão alemã, que mantinha contato com lideranças social-democratas dinamarquesas.


O resgate

No dia 28 de setembro chega de Berlim a “aprovação” para a deportação dos judeus, a ser iniciada em 1º de outubro. Best alerta Duckwiz, e este contacta imediatamente Hans Hedtoft.  Social-democrata e membro do movimento de Resistência dinamarquesa, a participação  deste último na salvação dos  judeus da Dinamarca foi decisiva.  Foi ele, Hedtoft, quem advertiu  C. B. Henriques, o líder da comunidade judaica.

No dia 29 de setembro, durante  os serviços matutinos, o rabino Marcus Melchior, que se tornaria rabino-chefe da Dinamarca, informou aos presentes sobre os planos nazistas, pedindo a toda a comunidade judaica que se escondesse imediatamente e anunciou o cancelamento dos serviços das Grandes Festas.

Ao recordar aquele período, o rabino Melchior conta: “Os nazistas haviam planejado encurralar 8 mil judeus em 1º de outubro de 1943, segundo dia de Rosh Hashaná, quando todos estariam “convenientemente” reunidos na sinagoga ou em seus lares.”
Nesse meio tempo, a informação sobre os planos nazistas chegou até o bispo luterano de Copenhague, Hans Fuglangs-Damgaard, que passou a exortar abertamente aos dinamarqueses a protegerem os judeus. Ele, também, mandou uma carta de protesto às autoridades alemãs na qual afirmou:

“Onde quer que perseguições sejam efetuadas por razões raciais ou religiosas contra os judeus, é dever da Igreja Cristã protestar, pois a perseguição dos judeus é irreconciliável com o conceito do amor humanitário ao próximo (…) . Raça e religião não podem jamais ser razões para privar o homem de seus direitos, liberdade ou propriedade (…). Nós devemos lutar para continuar a garantir aos nossos irmãos e irmãs judeus a mesma liberdade que preservamos mais  do que a vida (…). Nossa consciência nos obriga a manter a lei e protestar contra qualquer violação de direitos humanos. Desejamos declarar sem ambiguidade nosso respeito à Palavra, pois nós devemos obedecer a D’us e não ao homem”.

A carta, lida pelo Clero luterano em todos os púlpitos do país, no dia 3 de outubro, catalisou ainda mais um sentimento nacional e uma mobilização extraordinária. Para os dinamarqueses, aquela perseguição era uma violação à sua integridade e não estavam dispostos a se submeter passivamente. A atitude da Suécia também foi significativa. Seu governo informou aos alemães que iria acolher os judeus e divulgou pelo rádio sua política de abertura, encorajando, assim, o êxodo dos judeus dinamarqueses através da estreita faixa de mar que separava a Dinamarca da Suécia.

Quando, no dia 1º de outubro, os nazistas deram início à operação, a maioria dos judeus havia desaparecido, estavam escondidos à espera de serem foram levados à costa. Os nazistas conseguiram prender 202 pessoas, a maioria das quais eram muito idosos ou doentes para fugir.

O que começou como um movimento popular espontâneo transformou-se em uma ação organizada pelo Movimento de Resistência Dinamarquês. Os judeus eram rapidamente levados até a costa onde esperavam sua vez para embarcar. Gilleleje, um grande porto pesqueiro situado no ponto mais ao norte da Ilha de Zealand, foi um dos locais de fuga de mais de um quinto da população judaica. Membros da Resistência de Gilleleje agiram rapidamente, mesmo antes da chegada de representantes de Copenhague.


Continua no post abaixo.

Fonte: Revista Morashá

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