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terça-feira, novembro 6

Dinamarca, Um País Justo Entre As Nações



Em setembro de 1943, ao tomar conhecimento de que os nazistas iriam deportar a população judaica, dinamarqueses de todos os escalões da sociedade e de todos os cantos do país, rapidamente uniram esforços e conseguiram salvar 7.200 judeus, praticamente todos os que viviam no país. Nenhum outro povo, em toda a Europa continental, agiu de tal forma. Como os cidadãos coletivamente agiram para salvar toda a comunidade, o Yad Vashem declarou o país, como um todo, Justo entre as Nações.

Os antecedentes

Em abril de 1933, entre os eventos que a comunidade judaica de Copenhague organizara para celebrar o centenário da sinagoga, estava a visita oficial do rei Cristiano X. Entre o dia do envio do convite e o dia em que a visita deveria ser realizada, Hitler sobe ao poder na Alemanha. Apesar de os líderes comunitários sugerirem ao rei que adiasse sua visita, o monarca compareceu. Não iria deixar que a ascensão de Hitler mudasse suas decisões. Este incidente é sintomático da forma como os dinamarqueses iriam agir em relação aos seus concidadãos judeus face à crescente ameaça alemã.

Apesar de estar disposto a ficar do lado de “seus” judeus, o governo, no entanto, estava relutante em abrir suas fronteiras aos judeus alemães que, com a intensificação das perseguições na Alemanha, queriam deixar o país. O governo alegava que esses últimos não podiam ser enquadrados na categoria de “refugiados políticos”. De modo geral, os vistos lhes eram negados e os funcionários do Departamento de Imigração tinham ordens de mandar de volta os que fossem pegos atravessando a fronteira.


Um dos temores do governo em relação à chegada de refugiados judeus era o possível recrudescimento do antissemitismo no país. Embora a população dinamarquesa não fosse, em sua maioria, antissemita, havia um Partido Nazista local com uns  12 mil membros – número considerável se levarmos em conta que era praticamente o dobro do número de judeus dinamarqueses.  O próprio chefe do Departamento de Imigração, Max Pelving, era nazista e espião da Gestapo.

Apesar da relutância e das restrições por parte do governo, ao longo dos sete anos seguintes, cerca de 3 mil refugiados judeus alemães e da Europa Oriental entraram na Dinamarca. Desse total, cerca de 1.500 eram chalutzim, pioneiros que vieram ao país em busca de treinamento agrícola antes de partirem para Eretz Israel.

No dia em que a Alemanha invadiu a Dinamarca, viviam no país cerca de 7.500 judeus, que representavam 0,2% da população total. O número incluía 1.400 refugiados e 300 jovens chalutzim que ainda não haviam conseguido embarcar para a então Palestina.

A ocupação alemã

Durante a década de 1930, perante  o rápido crescimento do  poderio alemão, a Dinamarca adotara uma política de não provocação em relação a seu vizinho. Ao eclodir, em setembro de 1939, a 2ª Guerra Mundial, os países escandinavos declararam neutralidade. Mas, de nada adiantou o pacto de não agressão assinado entre Dinamarca e Alemanha. Na madrugada de 9 de abril de 1940, o Terceiro Reich invade o país.

A resistência dinamarquesa foi nula e o governo se rendeu após duas horas. Mas, ao contrário de que aconteceu em outros países, o rei Cristiano X, membros do governo e parlamentares não abandonaram o país. Naquele mesmo dia assinou-se um acordo. O governo dinamarquês se comprometeu a cooperar com a Alemanha, recebendo, em troca relativa liberdade. Os alemães controlariam apenas a política externa, o rei Cristiano X não seria deposto e o governo poderia continuar trabalhando tão normalmente quanto possível. Para reafirmar sua soberania, Cristiano X era visto cavalgando todas as manhãs sozinho, desarmado e sem escolta, por Copenhague. O acordo também incluía proteção política, social e jurídica aos judeus e suas propriedades.

Eram profundas as diferenças na maneira como os alemães  passaram a lidar com a Dinamarca e na forma como tratavam outros países ocupados, principalmente no Leste europeu. No caso da Dinamarca, a “administração”  do país ficou a cargo do Ministério das Relações Exteriores, e não das SS ou da Gestapo, e não podendo governar por decreto,  os alemães adotaram uma política de negociação com as autoridades locais. É preciso, também,  lembrar que os nazistas acreditavam na “pureza e superioridade” dos povos nórdicos, considerados “arianos” e, portanto, tratavam os dinamarqueses com certo respeito. Ademais, a Alemanha não tinha nenhum interesse estratégico na Dinamarca.

Precisava, sim, manter um fluxo regular de produtos agrícolas e de munições da Dinamarca para a Alemanha; por isso, enquanto não houvesse no país uma resistência ativa, iria permitir ao governo dinamarquês certa liberdade.

Fonte: Morashá

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