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domingo, novembro 13

Tradições: Casamento no Marrocos II


O "Grande vestido", El-keswa el-kebira

Nas terras onde se fixaram os judeus espanhóis, trajar uma noiva merecia grandes preparativos e suntuosidade, sendo comparado aos preparativos de uma rainha para a cerimônia de sua coroação. O vestido da noiva, rico e elaborado, assemelhava-se aos trajes usados pelas rainhas de Espanha. Chamado de "El Gran vestido", ou pelo seu nome árabe, el-keswa el-kebira, durante séculos este majestoso traje foi usado sob a chupá por grande parte das noivas marroquinas, indício da grande influência dos sefaraditas sobre as comunidades judaicas do Marrocos.

O "Grande vestido" consistia, geralmente, da zeltita, uma farta saia-envelope comprida, em veludo de seda vermelho-escarlate ou amarronzado, ricamente bordada com fios de ouro, por vezes com pedras semi-preciosas incrustadas, que levava sob a mesma vários saiotes de seda. Na parte superior, um corpete em veludo da mesma cor da saia, o gombazh, também ornado com bordados e sete botões de prata. Por baixo desse colete, surgiam as kemam et-tesmira, longas mangas bufantes, em diáfana seda tramada com fios de ouro. Completava o traje um cinturão largo, que podia ser ricamente trabalhado em fios e pérolas.

O "Grande vestido" é repleto de simbolismos. As curvas concêntricas bordadas em fios de ouro, que sobem a partir da bainha, representam a fertilidade. Os círculos dourados no colete simbolizam o sol ou o infinito. No traje nupcial, serviam de associação entre o casamento e o início de uma nova vida para os noivos. Os sete botões em filigrana de prata do corpete representam as "Sete Bênçãos" da cerimônia de casamento, repetidas ao término de cada uma das refeições festivas, ao longo da semana das Sheva Berachot que se segue à chupá.

Depois do casamento, a noiva usava o "Grande vestido" em ocasiões muito especiais, sendo em várias famílias passado de mãe para filha, de geração em geração. Se a família não possuía a roupa tradicional e não tinha recursos para o confeccionar, tomava-a emprestada, sendo grande mitzvá para quem a cedia.

O arranjo da cabeça variava. Podia ser uma espécie de turbante formado por lenços coloridos cuidadosamente trançados, uma coroa em prata incrustada de pedras preciosas ou tiaras com suntuosos bordados. E levava um festul, uma longa écharpe de seda branca ou verde, recoberta por um pequeno véu branco transparente, o elbelo, que recobria o rosto da noiva ao ser entregue ao noivo. Mulheres trajadas com o el-keswa el-kebira foram pintadas e fotografadas por inúmeros artistas europeus.

No dia do casamento

O ritual de vestir a noiva cabia a mulheres que tivessem profundo conhecimento das tradições. Era como se, ao vestirem a noiva, que ficava imóvel como "una reina", transmitissem-lhe "todo o mazal e as berachot do Rebi Shimon", o grande e tão invocado Rabi Shimon Bar Yohai.

Em algumas comunidades, antes da cerimônia de casamento as mulheres coloriam as pálpebras da noiva e penteavam seu cabelo em duas tranças. No rosto, pintavam-lhe símbolos contra o "ayin'ará" e, nas mãos, desenhos ou letras hebraicas em henna.

A família do noivo costumava ir à casa do pai da noiva para buscá-la e a levar para a casa do noivo. Este, depois de recebê-la, a levava até o talamon, uma espécie de trono, onde sua própria mãe esperava a futura nora, ao som do "Baruch Habâ", entoado pelos presentes. Velas eram acesas diante do trono, para iluminar o caminho da jovem na nova vida que se descortinava à frente do casal.

No Marrocos, diferentemente do que ocorria em outros lugares da Diáspora, a noiva usa um véu fino, para não impedir o noivo de ver seu rosto. Os judeus marroquinos acreditavam que a jovem tinha que ser constantemente vista e "homologada" por todos familiares e convivas, nas várias cerimônias, como confirmação de sua identidade.

Continua...

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