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segunda-feira, novembro 14

Tradições: Casamento no Marrocos I


Alguns costumes variavam, de comunidade para comunidade, segundo as influências que cada uma absorvera da cultura árabe, berbere e espanhola, ao longo dos séculos. No entanto, a influência dos megorashim - judeus de origem ibérica - apesar de ter sido sempre mais forte nas cidades da costa norte, se espalharia por todo o país. Somente nas pequenas comunidades montanhosas do interior, os toshavim, isto é, "os habitantes do lugar", como eram chamados os judeus que viviam no Marrocos antes da chegada dos sefaradim, apegaram-se tenazmente a suas próprias tradições.

Ainda hoje, vários dos costumes e tradições relacionados à celebração do casamento são seguidos tanto pelos judeus que ainda vivem no país como pelos que o deixaram, estabelecendo-se em outros países.
As celebrações pré-nupciais

Entre os judeus marroquinos, era verbal o compromisso de noivado entre as famílias. Assim sendo, por volta de uma semana antes do casamento, o noivo e o pai da noiva compareciam diante do sofer do Bet Din, o escriba do Tribunal Rabínico local, para formalizar o compromisso. Era então que o noivo assumia formalmente a responsabilidade de sustentar e zelar pela futura esposa e o pai desta, por sua vez, reafirmava o valor do dote anteriormente prometido. O documento contendo o acordo, redigido pelo sofer diante do Bet Din, serviria de base para a Ketubá, o contrato nupcial lido na cerimônia de casamento, sob a chupá, pálio nupcial. Terminada a celebração religiosa, o pai da noiva convidava os presentes, inclusive o sofer, para irem à sua casa e admirar o enxoval da filha - roupas, jóias e objetos que esta levaria para seu novo lar. Em seguida, convidavam-se os familiares, amigos e vizinhos para a comemoração. Já entre os judeus de Tânger, como não havia nenhum tipo de compromisso prévio, tudo era acordado na própria ocasião das bodas.

As semanas anteriores ao casamento eram marcadas por inúmeros festejos na casa dos pais da noiva e do noivo. Eram celebrações festivas em que amigos e familiares se reuniam para apresentar ao jovem casal os votos de uma vida feliz. Os convidados costumavam oferecer presentes à noiva, tais como bandejas de doces, enfeites ou fitas para adornar o arranjo que usaria na cabeça, no dia do casamento, ou outros presentes simbólicos que caracterizassem os bons augúrios e as preces pela felicidade, fecundidade e prosperidade do novo casal.

Dependendo da região, as celebrações tinham dia certo para iniciar. Em Casablanca, por exemplo, era uma semana antes do casamento; em Fez, no domingo que antecedia a data, enquanto que em Sefrou e Settat, na quinta-feira da semana do casamento. Entre os judeus marroquinos também a primeira ida da noiva ao mikvê - chamada nas comunidades de origem ibérica de Noche del banyo ou Noche del lavado - é uma ocasião alegre, repleta de belas tradições. Bem próximo ao casamento, um grupo de mulheres escoltava a noiva até a mikvê, após terem-na ajudado a se preparar cuidadosamente. A mãe do noivo fazia parte do grupo, ia para "se certificar de que a jovem era realmente a 'escolhida' por seu filho". Ao emergir do mikvê, a noiva recebia de sua mãe um espelho onde podia ver-se de corpo inteiro, não apenas o rosto. O costume é considerado uma segulá, isto é, um meio espiritual de se alcançar a realização de um desejo - de que ela fosse feliz durante todos os anos de seu casamento como o era naquela noite.

No Marrocos, é costume oficiarem-se casamentos às quartas-feiras à noite. Na véspera, era realizada na casa dos pais da noiva a "Festa da Henna", na qual participavam familiares e amigos. Durante a celebração, a noiva, vestida em certas comunidades de vermelho, tem as mãos e, às vezes, também os pés, pintados de henna, planta que produz uma tinta vermelha. O intuito é proteger a jovem contra o "ayin'ará", o mau-olhado. Nessa mesma noite, era costume o noivo também celebrar em sua casa, entre amigos, sem a henna, no entanto.

Os judeus de Tânger, ainda na véspera do casamento, organizavam uma festa similar só para mulheres, denominada "Noche de novia". Era um evento de grande alegria. Iniciava-se com a entrada de um rabino e dois edim, testemunhas religiosas, portando velas e cantando piyutim, que conduziam a noiva a um trono especial. Em seguida, colocava-se henna na mão direita da noiva e de todos os presentes, como sinal de alegria e bênção para a noiva. Como, em Tânger, as noivas vestem-se de branco no dia do casamento, na "Noche de novia" elas usavam o "Grande vestido" - que, nas demais comunidades marroquinas, era usado na cerimônia matrimonial sob a chupá.
Continua...

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